Facebook sob ataque - entenda a #StopHateForProfit

Centenas de marcas suspendem anúncios no mês de julho em apoio à campanha

Nesta semana grandes marcas aderiram à campanha #StopHateForProfit de boicote à publicidade no Facebook em protesto contra a incapacidade da plataforma em combater a disseminação de fake news e discurso de ódio em todo o mundo.

Apesar das medidas recentes - como o investimento em agências de checagem de fatos e a remoção de publicações do presidente brasileiro - usuários da própria plataforma convocaram o boicote por considerarem insuficientes os esforços. Com efeito, grandes marcas como a Starbucks, Puma, Unilever, Honda, Pfizer e muitas outras aderiram à campanha e anunciaram a suspensão de sua publicidade no Facebook para o mês de julho.

A adesão de mais de uma centena de grandes marcas é um dos pontos positivos deste movimento. Veja aqui a lista das marcas que aderiram à campanha #StopHateForProfit

A campanha é resultado dos protestos que vem agitando os Estados Unidos desde a morte de Geoge Floyd. Usuários reclamam que o Facebook não tem se esforçado na contenção de campanhas de cunho racista, homofóbico ou violento em geral.

Zuckerberg confiante no retorno dos anunciantes em breve

Com os anúncios suspensos no mês de julho, essas marcas juntas representam mais de US$ 8 bilhões. Ainda assim, esse valor representa cerca de 5% da receita total do Facebook Ads, e Mark Zuckerberg parece estar mais preocupado com as perdas em termos de imagem e relações públicas do que com o impacto financeiro do boicote.

Em resposta aos ataques, o CEO do grupo teria declarado aos colaboradores do grupo que: “não mudaremos nossa política ou abordagem a nenhum assunto por causa de ameaças à retirada de um pequeno percentual de nossa receita, ou de qualquer percentual de nossa receita”.

Para Zuckerberg, trata-se de um movimento exagerado, pois o grupo vem entregando melhorias no controle de conteúdo ofensivo em suas várias plataformas nos últimos meses, e logo os anunciantes retornarão.

Por que tantas marcas estão aderindo ao boicote?

Analistas afirmam que para muitas marcas, o boicote pode render melhores resultados do que os próprios anúncios.

Isso mesmo, ao anunciarem a adesão à causa, as empresas estariam assumindo um posicionamento que resulta em publicidade positiva para suas marcas, ao mesmo tempo em que economizam recursos em caixa.

No momento conturbado de pandemia e protestos, é uma oportunidade para marcas se posicionarem no tiroteio, com risco baixo.

Por que a cobrança sobre o Facebook?

O Grupo Facebook tem estado no centro das atenções do debate sobre a proliferação das fake news e discurso de ódio e extrema-direita em todo o mundo, desde as últimas eleições americanas, após o escândalo da utilização ilegal de dados de usuários pela campanha do presidente Trump e pela empresa Cambridge Analytica.

Naquela ocasião, além do vazamento dos dados pessoais de milhões de usuários devido a uma falha de segurança básica na configuração da plataforma, o Facebook não foi capaz de identificar e impedir a utilização de robôs de distribuição em massa de peças contendo ataques a políticos adversários, informações falsas e toda sorte de conteúdo ofensivo às diretrizes e termos de uso da própria plataforma.

Qualquer semelhança com outros países não é mera coincidência. Preocupado com sua responsabilidade no fenômeno recente de crescimento dos movimentos radicais, muitas vezes apoiados na disseminação massiva de informações falsas ou distorcidas, as grandes empresas de tecnologia tem se movimentado.

Além do Grupo Facebook - responsável pela plataforma de mesmo nome, mais Instagram e Whatsapp - também o Google anunciou recentemente que vai pagar pelo conteúdo de veículos profissionais de imprensa .

Antes, o Twitter já havia banido diversos tweets dos presidentes Bolsonaro e Maduro - ambos por defender a hidroxicloroquina sem qualquer comprovação científica.

prints de tela do twitter de Jair Bolsonaro

Em um destes posts, ironicamente, ouve-se um apoiador do presidente brasileiro afirmando que é preciso distribuir a droga para “evitar que o Brasil se torne uma Venezuela”. Naquele momento, Bolsonaro era acompanhado por 4 generais e outros 2 militares membros do primeiro escalão do governo.

Com o sucesso da campanha #StopHateForProfit e a adesão de centenas de marcas com relevância mundial em todos os nichos, fica claro que a pressão da opinião pública por maior equilíbrio na comunicação digital e combate aos crimes de ódio e manipulação na internet passam pela adequação dos canais e plataformas.

Se num primeiro momento o Facebook procurou dar todo poder aos usuários, seguindo cegamente seu propósito de conectar pessoas. agora é hora de diluir as bolhas, integrando visões diversas e favorecendo o debate saudável de ideias.

Para que isso seja possível, é preciso criar mecanismos e travas de controle contra fake news e impedir que mentiras sejam impulsionadas nas redes sociais, rendendo dividendos para as plataformas e eleições desastrosas em países periféricos.